A cabeça vazia.
Completamente,
como um papel em branco esquecido no chão,
inadvertidamente.
Vazia rima com jazia,
afazia,
estazia,
encher o cú de azia!
Pois é,
a cabeça vazia…
Chove,
anoitece.
Vamos sair?
Até parece!
Chove
bem forte.
Me beija?
Desaparece!
Chove,
apenas chove.
Tem dó..
Vê se me esquece.
A agenda do notebook,
em dúvida, pergunta:
a anotação do aniversário do amigo
que acabou de ser lançada,
se repete anualmente
e dura para sempre?
Sei não, respondo meio cismado,
para sempre é uma eternidade.
É proibido
estacionar,
parar,
olhar.
É proibido
conversar,
cantar,
fumar.
É proibido
pensar,
julgar,
protestar.
É proibido
amar,
dançar,
cantar.
É proibido
chorar,
reclamar,
desertar.
Só não é proibido
morrer.
Alma em suplício,
alma de médico,
alma no lodo,
alma morta.
Almas rebeldes,
almas pecadoras,
almas em chamas,
almas em fúria.
Mercador de almas,
conflitos da alma,
suplício de uma alma,
tempestades da alma.
Uma alma livre,
inverno da alma,
corpo e alma,
além da alma.
Essas almas são filmes,
apenas antigos filmes.
Mas, cá entre nós,
estariam mesmo falando de almas?
Vento forte,
sudoeste bravo
sacudindo as árvores,
jogando a areia na calçada,
encrespando o mar,
anunciando tempestades
e a chegada de uma frente fria.
No dia seguinte a chuva veio
e o frio também.
Na televisão, um aviso aos navegantes:
possibilidade de ressacas,
ondas com mais de três metros,
no sul e no sudeste.
Saí de casa bem cedo,
junto com a chuva,
para assistir as ondas furiosas,
lavando a areia da praia.
Mas, que pena,desta vez,
a ressaca não apareceu.