
“Então sonhei um sonho tão bom: sonhei assim: na vida nós somos artistas de uma peça de teatro absurdo escrita por um Deus absurdo. Nós somos todos os participantes desse teatro: na verdade nunca morreremos quando acontece a morte. Só morremos como artistas. Isso seria a eternidade?” (Clarice Lispector)
oOo
Foi a primeira vez que viu a porta da rua do antigo teatro aberta. Curioso, olhou para dentro. Uma jovem sorridente, sentada numa mesinha bem a frente sorriu e o convidou a entrar. Subiu a pequena rampa, na semiobscuridade, passou pelo que restou do antigo hall e entrou na grande sala onde ficava a plateia. Os olhos, sem querer, marejaram.
Quantos anos se passaram… As paredes descascadas, tomadas pela umidade, os tijolos aparentes. O palco desapareceu. A coxia, absurdamente desnuda, isolada por tijolos e pedras para evitar que incautos por ali transitem. O piso original, de pedras brancas, agora é cinza escuro, cheio de pó, cheio de nada. Nenhuma luz, os lustres e refletores sumiram. Apenas o sol clareia um pouco, pelos buracos das paredes.
Meu Deus, o que fizemos? Como deixamos que uma sala que brilhou nos tempos que foi de um hotel, depois um cassino e por último uma rede de televisão, chegasse a esse ponto? Ruínas, esquecidas, condenadas a uma morte lenta e inexorável. E os artistas, roteiristas, diretores, funcionários, toda essa gente que ali atuou? O que será de sua memória?
Não creio, Clarice, teatros também morrem.
Coisa triste de se ver mesmo. No entanto, ganhou uma beleza ímpar através de sua lente cronista. Emocionei desse lado Carlos!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Obrigado, Roseli, sua opinião tem um valor enorme prá mim. Bjs!
CurtirCurtido por 1 pessoa