Caminhava tranquilamente pelo badalado Boulevard Olímpico, no centro do Rio. Absolutamente nada para fazer, nada para se preocupar e, até mesmo, nada a temer. O dia lindo, explodindo de azul, até permitia que ele contemplasse, admirado, os armazéns, sobrados e igrejas que a antiga Perimetral escondera durante tantos anos. Mas o melhor de tudo era a sensação de liberdade, poder circular pra cá e pra lá como uma pessoa qualquer.
Os últimos três anos, trancado no presídio, foram a gota d’água. Sabia que não teria outra oportunidade de mudar de vida, de cidade ou até mesmo de país. Além do mais estava ficando velho e muito manjado. O importante agora era ficar longe das confusões, dos cambalachos. Como sobreviveria depois de tanto tempo aprontando era uma incógnita mas, enfim, a gente acaba dando um jeito.
Perto do Armazém da Utopia foi abordado por uma patrulha da polícia: – olha só quem está aqui, o famoso Zé das Couves. Cidadão, parado, abra as pernas e levante os braços, vamos revistar. Não acreditou no que estava acontecendo, só podia ser um pesadelo. Caramba, tinha acabado de receber a condicional e saído da prisão não tinha nem um dia, tentou explicar, mas foi abruptamente cortado:
– Cidadão, entender eu entendo, mas não importa. Assaltaram um grupo de turistas aqui na região, o prefeito ligou furioso, a imprensa está caindo em cima e o delegado mandou pegar os suspeitos de sempre. Resumindo, você perdeu. Entra na viatura e não enche o saco!
O dia bonito, de repente, acabou.
Cruel, mas, é fato!
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Pois é.
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