– Motorista este ônibus tem banheiro?
– Tem sim, minha senhora, fica lá no fundo…
– Tem que ter banheiro. Eu paguei a passagem e quero meus direitos, o banheiro e… cadê o ar condicionado, não tem ar no ônibus? Eu paguei!
– O ar só pode ser ligado quando o carro sair da plataforma, dona, são ordens da prefeitura.
– É bom que seja isso mesmo, senão vou dar queixa na empresa. Isso é um absurdo. A
gente já embarca tensa, tendo que reclamar de tudo.
– Tá certo e boa viagem, dona!
– E mais essa… Minha filha quais são as poltronas?
– A dois e a quatro, mãe.
– Então por que esse sujeito está sentado no meu lugar? Sai daí seu enxerido.
– Opa, essa aqui é a poltrona um, minha senhora.
– Eu não estou falando? Minha filha, quer dizer que você comprou assentos separados e ainda por cima ao lado desse grosseirão?
– É mãe, comprei…
– Minha senhora, não seja por isso. Eu troco de lugar com sua filha e vocês duas ficam
juntas.
– Ora, ora, o grosseirão até que é esclarecido. Então sai daí, moço!
– Dona, grosseirão é a sua… Deixa prá lá, com licença.
– Motorista, eu estou morrendo de calor, esse ônibus sai ou não sai? E liga o ar!
– Só ao meio-dia, dona, aí eu ligo, já falei.
– Puxa mãe, está frio, as pessoas estão de casaco, não vai nem precisar de ar
condicionado…
– Cala a boca, coisa inútil. É uma questão de direito: eu paguei e exijo usar. E vai logo ver se tem banheiro mesmo nesta porcaria.
– Mas mãe…
– Vai lá, não discute.
– Dona, tem banheiro sim, mas ainda dá tempo da senhora usar o da rodoviária.
– Não pedi sua opinião!
– Eita!
– Por que será que aquela inútil da minha filha está demorando?
– Mãe, tem banheiro sim. E acabei de me lembrar de que não comi nada. Será que dá tempo para almoçar ali no barzinho?
– Senta aí sua desnaturada. Para de falar besteira. Se eu sair daqui vem outro grosseirão rouba o lugar ou a minha mala. Fica quieta. E você está muito gorda para ficar comendo toda hora. Motorista, olha a hora. E vê se liga essa droga do ar condicionado logo que eu não aguento mais de calor!
A viagem prometia…
oOo
A festinha infantil seguia animada e alegre no salão de festas do prédio de um casal amigo. A criançada assanhadíssima corria para cá e para lá e, quando um deles arranjou uma bola de futebol, a coisa ficou meio caótica. A dona da casa, querendo salvar o que ainda restava de suas mesas decoradas com o tema da festinha, implorava para que um dos pais tomasse qualquer providência.
De repente, alguém desvia a bola em nossa direção. Para nosso espanto o Rui, um modelo de elegância, discrição e sobriedade, faz o improvável, dá um bicão de direita e sai gritando: – Goooollllll!!!!! Gooolllllll! MEU SAPATO! Alguém pega o meu sapato! Isso mesmo, seu impecável mocassim de couro, caro prá burro, decolou do playground e aterrissou aos trambolhões no telhado da casa ao lado.
Meus queridos, um gol de placa! Já o Rui… Bom, os moradores da casa só voltariam no dia seguinte. Pular o muro e subir no telhado estava fora de cogitação, vai que algum vizinho chamasse a polícia… O remédio era torcer para não chover e que nenhum gato gostasse de morder mocassim. Alguém gentilmente cedeu um par de havaianas e o aniversário seguiu sem maiores problemas. Uma sapatada para não ser esquecida.
Foto: Carlos Emerson Junior