As duas mocinhas atravessaram rapidamente a Avenida Atlântica e vieram exatamente na minha direção. Embalado pela caminhada acelerada, ainda tentei desviar pelo lado da areia mas não teve jeito, uma ficou bem à minha frente enquanto a outra, meio sem graça, colou ao meu lado. Admito, por um momento pensei que se fossem dois marmanjos eu gritaria por socorro.
As jovens, sorridentes, se apresentaram:
– Boa tarde, senhor, desculpe atrapalhar seu treino. Eu sou a Janaína e ela é a Paulinha, somos repórteres da rádio nacional (ou algo semelhante, não entendi direito e nem consegui ler o minúsculo crachá). O senhor é brasileiro, não é mesmo?
– Boa tarde, meninas. Sou sim.
– E deve ser morador, correto?
– Está tão na cara assim?
– Então, o senhor se importaria de dar uma entrevista?
– Uai, eu? Mas com tanto gringo de bobeira aqui na praia….
– Mas queremos saber a opinião do morador, se essa Copa afetou o seu dia a dia, se está apoiando a seleção e….
– Olha, vocês vão me perdoar, mas eu estou no meio do exercício e não dá para fazer isso agora.
– Não tem problema, nós caminhamos também com o senhor.
Olhei para o relógio e percebi que saíra sem ele. Ainda mais essa. Não estava com a menor disposição de ser entrevistado e nem via motivo para isso, mas as meninas eram tão animadas que fiquei com pena.
– Olha, eu vou ser sincero com vocês duas. Na verdade nem moro aqui, sou de Nova Friburgo. O problema da entrevista é que minha mulher não sabe que estou no Rio e ainda por cima na praia de Copacabana. Tudo bem, não estou fazendo nada demais, mas se ela descobre, tô ferrado, ela é uma fera.
– Sério?
– Seríssimo.
– Mas nós somos uma rádio e….
– Rádio, TV, internet, não importa, se isso cai numa rede social eu danço. Não, minhas queridas, ali em frente tem um monte de moradores doidos para conversar com um jornalista e garanto que são mais interessantes do que eu. Brigadão pela preferência, bom trabalho e boa tarde, vou terminar minha corridinha. Tchau!
Saí disparado pela Atlântica, em direção ao Posto 4, ponto final do exercício. Não sei onde estava com a cabeça quando inventei essa história mas me diverti, a cara de espanto das duas foi impagável.E depois, o que eu ia falar? Que estou me lixando pra Copa? Que os feriados que a prefeitura decreta para encobrir as falhas de mobilidade me envergonham? Que a limpeza sanitária, leia-se sumiço dos mendigos e menores, é só para inglês ver? E que no dia 14 de julho voltaremos à realidade?
Não, decididamente sou a pessoa errada para uma entrevista numa rádio oficial. Ainda bem.
Oi CJunior!
Adorei o seu “espírito esportivo” ! rs Bjs e continue assim.
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Valeu, Tina, um beijão!
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Carlos acompanhei vocês três nessa corrida e segurei muito meu riso diante das carinhas de decepção delas, rsrs
Muito bom!!
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Bom, no final a “entrevista” rendeu uma crônica! Valeu, Roseli.
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Sua mulher vai ficar uma fera com esse post. Por você ter saído sem relógio.
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Sem relógio, sem lenço ou documento! 🙂
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